A filosofia do yoga vem sendo cada vez mais disseminada no ocidente como um instrumento para amenizar o dia-a-dia estressante do estilo de vida contemporâneo e também como um caminho de estudo e desenvolvimento espiritual. Apesar de ser uma filosofia que se originou na Índia há mais de 5 mil anos, hoje ela tem ampla difusão por meio de suas “formas” e posturas bonitas que fascinam o ocidente.
A maioria dos ocidentais iniciam o contato com o yoga através da prática de ásanas, e começam a compreender esta filosofia a partir das mudanças que acontecem no corpo físico. Não que isso seja ruim, porém o yoga possui outros aspectos que também podem ser trabalhados nos primeiros contatos, como a meditação, os pranayamas, os estudos da sua filosofia e etc. O que devemos entender é que o yoga incorpora outras possibilidades de experiências além dos ásanas. Com o tempo de prática e estudos, vamos internalizando tais aspectos no nosso comportamento, na nossa saúde, na relação com os demais, no autoestudo e aos poucos vamos nos sentindo mais completos neste caminho.
É muito comum a sensação de estranhamento e limitação nas primeiras aulas de yoga, já que são movimentos incomuns ao cotidiano. A vontade de realizar tais posturas é tamanha que o foco torna-se maior na “forma” e menor no processo, ultrapassando limites físicos ao sacrificar o corpo e a respiração para chegar na “postura final”. Segundo IYENGAR, “…ásana quer dizer postura, que é a arte de posicionar o corpo todo com uma certa atitude física, mental e espiritual” (2001, p. 94), portanto é necessário conectar corpo e mente e, deixar a ansiedade de lado para aproveitar o processo ao trazer presença e concentração na prática.
Aceitar o limite do seu corpo e entender até onde é possível seguir na postura, respeitando sua respiração, os bandhas e os drishts é a melhor forma de trazer constância e continuidade na prática rumo a transformação interior. É bem provável que o aluno irá se deparar com seus padrões de comportamento, comparação com os demais colegas, assim como o apego ao resultado final da postura, porém tais fatores só aumentam o desequilíbrio do praticante. “A prática pode nos mostrar como desapegar-nos de nossas expectativas de que a vida deve desdobrar-se de um jeito específico” (VOLLMER, p. 65).
Cada corpo possui uma história, um tempo e um processo, é fundamental respeitar essas características e trabalhar com paciência a prática física, mental e espiritual, para assim evitar futuras lesões geradas por tais influências.
Devemos entender que o objetivo da prática não é ficar mais flexivel ou forte, no entanto, quando há foco e objetivo claros, tais benefícios surgirão como um resultado natural e fará o praticante sentir bem-estar, equilíbrio e saúde no organismo. “Quando o seu corpo, a sua mente e a sua alma estão sadios e em harmonia, você proporciona saúde e harmonia aos que estão à sua volta e ao mundo, não se alienando, mas sim, sendo um órgão vivo e sadio do corpo da humanidade” (IYENGAR, 2001, p. 39). Portanto esteja conectado, consciente e presente durante sua prática.
Com o coração aberto e mente relaxada, em pouco tempo é possível perceber as transformações mais densas, seja no alinhamento do seu corpo, em alguma parte que tornou-se mais flexível ou solta, no equilíbro ou mesmo no seu estado de espírito. Ao manter a prática fluida, e a consciência no momento presente, você irá perceber o seu corpo forte e equilibrado e se sentir energeticamente bem e saudável.
Uma prática de ásanas diária, naturalmente se expande para outras dimensões do yoga, como os yamas, nyamas, pranayamas, pratyahara, dharana, dhyana, samadhi e a partir desse pontos inicia-se um trabalho do yogui no caminho da sua essência.
A beleza, sutileza e leveza do yoga se constrói com a prática diária, com muita dedicação e disciplina. Praticar ásanas dariamente é uma grande oportunidade de autoconhecimento e observação, levando para a vida quebras
de padrões de comportamentos que conseguimos trabalhar no tapetinho, seja diante da dor ou do amor!
BIBLIOGRAFIA
IYENGAR, B. K. S. A árvore do ioga. São Paulo: Globo, 2001.
JOIS, S. K. P. Yoga Mala. Nova Iorque: North Point Press, 2002.
MIELE, L. Ashtanga Yoga. São Paulo: Blocker Comercial LTDA, 2009.
VOLLMER, M. Ásana e Lesões em Ashtanga Yoga.